Tem coisa mais irritante do que você, morrendo de vontade de falar com alguém, ligar pro celular dessa pessoa e a mesma não atender?! Odeio quando isso acontece. E olha que eu nem sou fã de falar no telefone.
Falta de comunicação. Foi essa falta de comunicação que me levou ao assunto do post de hoje, o “deus” Diálogo.
Atribuímos ao diálogo como salvador de to
dos os nossos problemas, afinal, é conversando que “ a gente se entende”, não é mesmo ?! Perdi as contas de quantas revistas, livros, entrevistas eu li exortam a importância do diálogo. Mas como vamos desandar a falar se desde pequenos somos ensinados a não opinar na conversa dos adultos, a não “ responder” pai e mãe, e não se meter onde não somos chamados?!Se crescemos sem saber dialogar, como vamos partilhar os nossos sentimentos mais íntimos, as nossas dúvidas banais, o nosso medo e insegurança. Como vamos nos desarmar e nos mostrar na nossa forma mais sincera, integra, real?!
Eu mesma, apesar de ser uma pessoa super desinibida, e ter uma relação com os meus pais ímpar, tenho uma imensa dificuldade de expressar o que sinto. Nossas emoções são tão conflitantes, contraditórias, caóticas que verbalizá-las fica quase que impossível, então nos calamos. Clarice Lispector soube definir muito bem o que quero dizer : "
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."E mesmo naqueles relações onde se dizer dizer tudo, nunca se diz tudo.“
A todo universo revelado corresponde um universo omitido” - Marina Colasanti. Ninguém deixa de amar da noite pro dia, e quantos e quantos relacionamentos terminam “ do nada”?! Eu mesma já passei por isso. Talvez ele tivesse pensado infinitas vezes antes de me comunicar, mas ao mesmo tempo talvez, não tivesse certeza dos seus sentimentos e quando teve, falou e me deixou " do nada", sem ao menos eu saber o motivo. Não dizer tudo não se trata necessariamente de estar escondendo algo. Afinal todos nós temos as nossas particularidades, eventualidades, devaneios que não tem nada haver com a vida a dois. Há que se saber o que falar e a hora de falar.
Quando criança ao perder um ente querido passei dias sem dizer uma só palavra, sem chorar, sem expressar o que eu estava sentindo, e num momento de desespero dos meus pais talvez, ganhei um cachorro e um diário. E foi escrevendo que aprendi a expressar o que sinto. E hoje estou aprendendo a dizer o que sinto, o que me incomoda, o que eu não gosto e não aceito sem medo de ser rejeitada ou repreendida, mas confesso que por muitas vezes ponderei a necessidade de dizer e o medo de fazê-lo.
É claro que existem vários níveis de diálogo e que depende muitas vezes do nosso interlocutor, e esse por sua vez depende de fatores culturais, ou de sua criação. Eu e meu pai, por exemplo, falamos escancaradamente sobre sexo a qualquer hora e lugar, já a minha mãe não gosta muito de falar sobre o assunto, que segundo ela, são coisas íntimas. E nós respeitamos. A verdade é que não falamos sobre um assunto se não tivermos abertura, se não nos derem essa abertura.
E quando esse “falar” é algo que podemos magoar o outro?! Somos generosos ao nos calar ou egoístas por medo das conseqüências que isso possa nos trazer?!
A verdade é que, um diálogo absoluto não existem, o importante é encontrarmos um equilíbrio, uma liberdade e abertura pra nos expressarmos, dizer o que pensamos e sentimos. É ter voz ativa, antes que situações pequenas se transformem em verdadeiras bolas – de-neve. O que não pode existir é a falta de comunicação, a omissão, o medo.
Abaixo às mulheres submissas!!!!!!!
Quantas mulheres fingem orgasmo ( se é que é possível)?! Quantas adolescente engravidam?!
Let´s go: vamos dizer aonde dói, aonde dá prazer, o que fazer no fim de semana, que filme assistir, o que te aborrece, o que te faz feliz, vamos dizer o que é bom e o que é ruim, sem medo, sem inseguranças....
E pra finalizar vou deixá-los com um texto de Alain de Botton, desejando uma semana de falas intermináveis...
“... Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar...”
O movimento romântico” – Alain de Botton